30 janeiro 2013

Rajastão

Depois da Índia "social" em Mumbai, com casamentos e reencontros, a Índia "turística" no norte do país, no chamado "triângulo dourado" (Nova Deli-Agra-Jaipur), com tudo aquilo a que os turistas têm direito, do melhor ao pior...
O Rajastão é um dos estados mais bonitos, e visitados, do país. Nesta região encontra-se desde a zona de selva onde ainda se podem ver tigres, à zona de deserto cuja principal atracção são as feiras de camelos. Pelo meio, muitos palácios e fortes, naquela que é chamada "the Land of Kings". Locais como Pushkar, a espiritual cidade dos peregrinos, Udaipur, a romântica cidade dos lagos, Jaisalmer, a cidade dourada, Jodhpur, a cidade azul, e Jaipur, a cidade rosa, fazem parte do imaginário dos marajás indianos.
Capital do Rajastão, habitada por cerca de 3 milhões de pessoas, Jaipur é uma cidade imperdível, mesmo com a confusão instalada no trânsito, como é aliás hábito em qualquer cidade indiana, e com a perseguição aos turistas, como é infelizmente também hábito em qualquer ponto turístico do país.
Com apenas 5 dias para fazer o "triângulo dourado", só deu mesmo para ir a Jaipur. Mas fiquei com pena de não ver mais do Rajastão. O Lonely Planet diz que Jaipur é a porta para o estado mais extravagante da Índia. Eu, pelo que me foi dado ver da cidade, diria que o Rajastão é, no mínimo, um estado inebriante...



27 janeiro 2013

De como os estrangeiros ainda são alvo de atenção na Índia

Aqui há muitos anos, entre 20 a 25, quando vivi em Macau com os meus pais, passava-se um fenómeno curioso sempre que íamos ao sul da China: para onde quer que fossemos, éramos "perseguidos" por dezenas de chineses que observavam com atenção tudo o que fazíamos, entre sonoras gargalhadas. Estranhámos ao princípio, mas acabámos por nos habituar. Digamos que era um fenómeno a que qualquer "kuai-lou" (diabo branco) estava sujeito quando ia à China, um país muito fechado sobre si próprio, com uma abertura ao estrangeiro muito recente naquela altura.
Daí que tenha estranhado um fenómeno semelhante na Índia dos nossos dias. Não estou a falar de dezenas de indianos a "perseguir-nos" (por acaso isso também acontece, mas é mais para nos vender alguma coisa, para nos levar a algum lado, para nos pedir alguns trocos, uma coisa que se torna exasperante a certa altura...), mas de vários indianos que pedem para tirar fotografias connosco. E eu surpreendidíssima, sempre a achar que o que eles queriam era que eu lhes tirasse uma fotografia a eles!
Aconteceu-nos em Mumbai, onde nos puseram uma criança nos braços. Na Elephanta Island, uma família inteira. Em Jaipur, grupos e grupos de rapazes novos. Em Agra, em pleno Taj Mahal. Em Nova Deli, onde já entravamos no esquema dizendo com um sorriso: "photo? give me money!". Fora de brincadeiras, achei estranho.
Em conversa com um dos meus colegas indianos, que se riu a bom rir quando lhe contei e que me disse que isso acontecia antigamente, chegámos à conclusão que os dias que lá passei (por alturas do ano novo) são dias de grande movimento a nível de turismo interno. Ou seja, muitos indianos de zonas rurais e remotas, menos habituados a estrangeiros, a andar de um lado para o outro. Aceito a possível explicação. Mas não deixo de estranhar...



26 janeiro 2013

De como hoje se festeja o dia da República na Índia

26 de Janeiro, dia da República da Índia. A constituição da República foi proclamada neste dia em 1950, depois de a 15 de Agosto de 1947 ter sido declarada a independência do Reino Unido, e partida a Índia Britânica em duas, a Índia hindu e o Paquistão muçulmano (uma segunda partição, desta vez do Paquistão, que resultou no também muçulmano Bangladesh, aconteceria mais tarde, em 1971).
Ainda hoje o vasto território que é a Índia, com uma maioria hindu (80% da população), mas cerca de 13% de muçulmanos (mais 2% de cristãos, concentrados no sul, e 2% de sikhs, concentrados no norte), se ressente de uma partição polémica, com conflitos latentes, principalmente no norte do país, entre os quais se destaca o que diz respeito à região de Caxemira.
O estado indiano de Jammu e Caxemira tem uma população maioritariamente muçulmana (cerca de 67% contra 30% de hindus), estando a chamada região de Caxemira dividida entre a Índia, o Paquistão e, mais recentemente, a China. Já para não falar das recentes pretensões independentistas! De facto, algo mais deve haver do que a famosa lã das cabras nativas da região...


23 janeiro 2013

Elephanta Island

O Lonely Planet já não é o que era! Mas o que é que se terá passado para que esta fã incondicional diga semelhante coisa, perguntam vocês? Então não é que me manda para a Elephanta Island, alardeando os templos esculpidos da ilha como "some of the most impressive temple carving in all of India"! Mais, alardeando a "tranquilidade" da ilha!!! Que o Lonely Planet não adivinhasse que eu ia lá num domingo e que a ilha é usada pelos locais para piqueniques, ainda vá que não vá. Agora que não fale no caminho de acesso às cavernas, para lá de 1 quilómetro de bancas para turistas dos dois lados, e no estado de degradação das estátuas, apesar de Património Mundial da UNESCO, é imperdoável...
Enfim, ataques de fúria à parte, não se perdeu a tarde. A Elephanta Island, assim chamada pelos portugueses quando lá chegaram e encontraram uma estátua em forma de elefante, é uma pequena ilha no meio do porto de Mumbai, conhecida pelo conjunto de templos esculpidos em cavernas, pensa-se que datados de 450 A.C. a 750 A.C.
Vale pelo passeio de barco, muito bonito e com uma bela vista sobre Mumbai. Vale pela atracagem na ilha, onde sair ou entrar no barco implica passar por vários barcos (incapaz de explicar melhor, vejam a foto abaixo!). Vale pelo pequeno comboio que faz uma parte do caminho até às cavernas, um cheirinho do que pode ser andar de comboio na Índia (apanhado em andamento e tudo ao molho e fé em Deus!). E vale pela fauna, desde os macacos às aves de rapina, passando pelas vacas, como não podia deixar de ser.
Já o conjunto de templos esculpidos deixa um pouco a desejar, na medida em que se espera mais, conservação e informação, de um local Património Mundial da UNESCO. Do ataque aos turistas é melhor nem falar! No que toca à enchente de locais, para fazer piqueniques ou visitar a ilha, é mais pela minha embirração com multidões, porque até podia ser um momento de observação sociológica...


Barco para a ilha

Passagem por 4 barcos para chegar à ilha! 

 O comboio a chegar

E o comboio a partir 

 Uma ave de rapina

E um macaco comilão 

Visit again? Logo se vê...

Uma das estátuas (são grandes sim!)

O "inesquecível" caminho de acesso às cavernas!

Tranquilidade na ilha...

 Casas coloridas da ilha

E esta é só mesmo porque gosto dela, apesar da mórbida corda...

20 janeiro 2013

Mumbai de rua

Mas Mumbai não é só os edifícios coloniais, mesmo quando a visita fica limitada ao centro da cidade. Mumbai é, como qualquer outra cidade indiana, um melting pot de cheiros, cores e sabores.
É os sabores das comidas e bebidas de rua, desde a água de cana de açúcar ao chá de gengibre a ferver. Passando pelo panipuri, tradução literal "pão com água", um pequeno pão frito cujo recheio pode ir desde o simples caldo de água aos cremes de batata e grão-de-bico, temperados com pimenta e toda a sorte de especiarias; e pelo viciante  kulfi, uma espécie de gelado de leite, com sabores que vão do caju ao pistácio, do cardamomo ao açafrão.
É as cores das bancas que vendem de tudo, desde frutas de todas as cores e feitios, a leques feitos de caudas de pavão. Dos saris a secar nas varandas, que nos fazem andar de cabeça no ar o tempo todo. Dos táxis, modelos antigos a fazer lembrar Cuba, mas principalmente dos autocarros e camiões. Das carroças de metal engalanadas para os passeios domingueiros das famílias de classe média com aspirações (segundo me explicaram, quando o meu queixo caiu a ver passar uma...).
É os cheiros, indefinidos mas intensos. Das comidas e bebidas de rua, dos escapes de todo o tipo de viaturas, das pessoas e animais, do lixo. Embora o lixo, omnipresente nas cidades indianas, não se sinta tanto em Mumbai (ou nas zonas de Mumbai por onde andei...).
E foi, sobretudo, para mim, a oportunidade de ver a Mumbai indiana, ao ficar e fazer refeições em casas indianas. Estar numa festa de véspera de casamento, em que se juntam família e amigos para comer e dançar, ou almoçar em casa de um colega cujos pais são hindus praticantes e ouvir a explicação de como funciona o altar e as rezas e oferendas aos deuses, foram experiências únicas. Das coisas boas que o MBA me deixou...


Bananas com fartura! 

Frutas de todas as cores e feitios

Saris a secar nas varandas

Táxi em modelo cubano 

Autocarro militar, tão colorido como os outros

 Carroça de metal para passeios domingueiros

Cabras e ovelhas, com pastor ao telemóvel

Banca da Xerox?

19 janeiro 2013

Mumbai colonial

Ver Mumbai num só dia não é fácil. Há que fazer escolhas. Uma das escolhas obrigatórias (passe o contra-senso...) é o centro da cidade, onde estão concentrados os edifícios de arquitectura colonial do século XIX.
Um dos mais emblemáticos é a estação de caminhos de ferro, Chhatrapati Shivaji Terminus, também conhecida como Victoria Terminus. De estilo gótico, é Património Mundial da UNESCO desde 2004. E é a estação de caminhos de ferro mais movimentada de toda a Ásia. De facto, mais do que ver o edifício por fora, por mais imponente que seja e é, vale a pena entrar e sentir o movimento. Não pára! Aliás, como a própria cidade...
Outro edifício digno de referência é a Sinagoga Keneseth Eliyahoo, de um azul bebé estonteante. Mas num estado de abandono inesperado, depois do Lonely Planet dar a indicação de uma sinagoga bem conservada pela pequena comunidade judaica da cidade. Segundo o inglês que por lá encontrámos, provavelmente resultado dos ataques terroristas de 2008, particularmente gravosos para a comunidade judaica.
Já fora do âmbito colonial, mas relacionado com o mesmo, o Hotel Taj Mahal Palace, que em conjunto com a Gateway of India (ambos do início do século XX), domina a zona do porto. O hotel foi construído pelo fundador do império Tata (para quem não conhece, www.tata.com), depois de lhe ter sido recusada a entrada num dos grandes hotéis europeus da altura, por ser "nativo". É hoje um dos marcos da cidade, ao passo que dos tais grandes hotéis europeus não reza a história. E a bofetada de luva branca perdura no tempo, dado que a Tata comprou recentemente, entre outras empresas, a Jaguar.
Por último, porque o colonialismo também deixou marcas que não se querem apagadas, não um edifício, mas um espaço, para aí do tamanho de dois campos de futebol, junto à Universidade de Mumbai (outro edifício colonial de referência). Para jogar futebol? Não, futebol na Índia, nem vê-lo! A obsessão nacional é o críquete! E este espaço é onde se encontram centenas de jovens para jogar críquete, em vários e pequenos grupos. Como é que se entendem no meio da confusão, não faço ideia. Mas como também não faço ideia das regras do críquete, por mais que me esforce...


Fachada da Victoria Terminus

Pormenor da torre

Portão em ferro trabalhado

Quadro com chegadas e partidas 

Sinagoga Keneseth Eliyahoo

Arcadas de edifício colonial

 Hotel Taj Mahal Palace

Gateway of India com o Taj Mahal Palace por trás

Torre da Universidade de Mumbai

Críquete, a obsessão nacional

16 janeiro 2013

Bombaim ou Mumbai?

Bombaim em português, Bombay em inglês. Ambas corruptelas de Mumbai, nome original da cidade, provavelmente com origem no templo à deusa Mumbadevi, um dos mais antigos da ilha, segundo me explicou o pai da minha amiga Priyanka. Há também quem diga que são corruptelas sim, mas da expressão portuguesa Boa Baía, dado que foram os portugueses os primeiros ocidentais a lá chegar. Em tempos de depressão nacional, fiquem com a versão que preferem…
Com cerca de 12 milhões de habitantes (21 milhões na área metropolitana), Mumbai é a capital económica do país. E com um dos maiores portos do mundo, à beira do oceano Índico, a cidade é também a capital mundial do cinema. Mundial sim! Ou não produzisse Bollywood quase o dobro dos filmes produzidos em Hollywood!!!
Apesar do caos, típico de qualquer cidade indiana, da omnipresença dos bairros pobres (conhecidos por slums), os maiores do país e nos quais vivem perto de 9 milhões de pessoas, e dos ainda tão presentes atentados terroristas, ocorridos em Julho de 2011, Mumbai foi a cidade onde me senti mais segura nesta viagem à Índia.
Pela cidade em si, que está hoje muito diferente do que era há 20 anos atrás quando lá fui em viagem a Goa e vi corpos na rua? Ou pelas outras cidades que visitei, Jaipur e Agra, muito menos cosmopolitas, e Nova Deli, nada amigável para as mulheres nos tempos que correm? Vá-se lá saber! Mas voltava para a conhecer melhor…

13 janeiro 2013

Casamento

Um casamento indiano, nomeadamente um casamento hindu, também é uma experiência inolvidável. Principal motivo da minha viagem à Índia, o casamento entre dois colegas do MBA em Nottingham, Pravin e Priyanka, fica na minha memória como uma das cerimónias mais giras a que já assisti. Sim, porque um casamento hindu é uma cerimónia a que se assiste. Acontece num palco, para o qual está virada uma plateia. No palco estão os noivos, os oficiantes e demais participantes nos rituais, tipo os pais e irmãos dos noivos. E na plateia estão os convidados, a assistir.
Mas não pensem que os convidados assistem em silêncio! Entre pessoas sentadas e pessoas em pé, toda a gente circula, seja para entrar ou sair, para tirar fotografias, para correr atrás de crianças, para atender telemóveis, etc. Verdade seja dita que a cerimónia dura entre 3 a 4 horas. E tem vários rituais, que se vão sucedendo. Para referir alguns, fios a ligar os noivos, 7 passos por 7 promessas que os noivos fazem, e o momento apoteótico em que os noivos trocam coroas de flores. É nesta altura que os convidados lançam arroz aos noivos, coisa que nos é familiar. Mas para perceber os rituais, o melhor é espreitar o seguinte link:
http://casamentos.sapo.pt/Artigo/Casamento/Cerimonia/1/Casamento-Hindu-904387.aspx
Giro giro é que o momento da comida, seja ela pequeno-almoço ou almoço, não é de todo importante. Acabado o tal momento apoteótico, 1 horita de almoço é suficiente. Sem os noivos, que entretanto foram mudar de roupa. Aliás, a mudança de roupa é uma constante, entre noivos e pais de noivos, numa sucessão de saris cada um mais bonito do que o outro, no caso das mulheres. Voltando ao almoço... E nada cá de lugares sentados, que isso é só para os mais velhos! Ah, e nada de álcool!!! Água fresquinha, que é o que se quer quando a comida é picante!
Depois é cumprimentar os noivos, que entretanto já voltaram, e posar para as fotografias. E ala que se faz tarde! Os homens tiram os turbantes que são obrigados a usar durante a cerimónia e as mulheres levam para casa a pinta na testa. E se forem próximas da noiva, as pinturas de hena que entretanto fizeram nas mãos...





12 janeiro 2013

Chegada

Chegar à Índia, nomeadamente a uma grande cidade indiana, tipo Mumbai (Bombaim, de antigo nome), é uma experiência inolvidável. Até para mim, que já vivi na Ásia e em África, pode ser traumatizante entrar no trânsito indiano. Entre autocarros, carros, motas, autorickshaws (também conhecidos como tuk-tuk), rickshaws, pessoas e animais, nas estradas indianas reina o caos.
Cada um anda na direcção que quer, independentemente dos sentidos. O que quer dizer que é preciso um coração forte quando se olha para os lados, mais até do que quando se olha em frente!!! E todos se metem em qualquer espacinho livre, independentemente das faixas definidas. De facto, se cabem seis veículos numa estrada com três faixas, porque é que lá hão-de estar três em vez de seis???
Por último, e o mais stressante de tudo, todos parecem funcionar a buzina como combustível. Pode parecer inverosímil, mas a sensação que se tem é que sem buzinas, tudo parava. O barulho é ensurdecedor e ao fim de uns minutos mexe-nos com os nervos (os nossos, não os deles!). Daí que sinais como o da fotografia abaixo, mais não sejam do que uma prova da imprevisível Índia…



10 janeiro 2013

Namaste

Imaginem um país com mais de 1.200 milhões de pessoas, o 2º mais populoso do mundo. O 1º como país democrático, simplesmente a maior democracia do mundo. Dividido por 28 estados, entre os quais o estado de Karnataca, cuja capital é Bangalore (Bengaluru, de novo nome), rival de Silicon Valley a nível de I&D na área das tecnologias de informação. Um país com um crescimento económico na ordem dos 5%, que faz dele a 10ª economia do mundo. E que tem como figura de referência Mahatma Gandhi, o defensor do princípio da não-agressão.
Imaginem um país em que cerca de 420 milhões de pessoas vivem na pobreza, mais do que nos 26 países africanos mais pobres em conjunto. No qual o índice de desigualdade duplicou nas duas últimas décadas, fazendo com que actualmente os 20% mais ricos detenham cerca de 42% dos recursos e os 20% mais pobres apenas 9%. Um país em cuja capital, Nova Deli, segundo notícias recentes, uma mulher é violada a cada 18 horas.
Esse país é a Índia. A incrível Índia, como lhe chama o turismo indiano. Eu chamo-lhe a imprevisível Índia…