31 março 2013

De como três meses de posts sobre a Índia também podem cansar

Em Nova Deli ficou muito por ver, desde o Red Fort à cidade nova, passando por vários museus. Na Índia então, nem se fala: as praias do sul, a mítica Goa (onde estive há cerca de 20 anos), o Ganges e a sagrada Varanasi, as plantações de chá do nordeste e as montanhas do norte, já para não falar dos locais onde ainda se pode ver o majestoso tigre. A Índia é, de facto, um país e tanto. Pela positiva ou pela negativa, marca. É de todo impossível ficar-lhe indiferente...
Mas ao fim de três meses de posts sobre a Índia, talvez esteja na altura de parar. Mesmo que ainda haja posts na gaveta. Pode-se sempre abrir a gaveta daqui a uns tempos, para variar de viagens gastronómicas por Portugal e pelo mais importante Eixo europeu...

30 março 2013

De como as aparências enganam, seja onde for

Mas o ponto alto em Nova Deli foi mesmo a chegada ao hotel! Reservado através da internet, em plena praça do centro da cidade, Connaught Place, tinha um óptimo aspecto nas fotografias. Quando chegámos, estranhámos o simpático guarda que se prontificou a levar-nos ao primeiro andar. Depois percebemos que a ideia é mesmo evitar que os clientes fujam escada abaixo quando chegam à entrada do hotel... Imaginem uma divisão mal acabada, com palavras pintadas a negro; um sofá que mais parece um ninho de ratos; um corredor e ao fundo uma porta.
Vencido o medo (ou de como se vence o medo aos empurrões de um guarda de hotel...) e passada a porta, uma diferença do dia para a noite! O hotel não podia ser mais acolhedor! Foi, aliás, o melhor hotel de toda a viagem! Mas porquê semelhante entrada, então? Porque o andar é partilhado com alguém que não quer o hotel ali e quer comprar o andar todo. E porque o assunto se arrasta em tribunal há anos, mas nada impede esse alguém de "minar o terreno", literalmente. Incrível, não é? Por isso, se forem a Nova Deli, não deixem de ficar no Hotel Bright!

PS: Consegui encontrar uma fotografia na internet. Ora vejam abaixo...


Photos of Hotel Bright, New Delhi
This photo of Hotel Bright is courtesy of TripAdvisor

Já agora o acolhedor quarto! 

E o ainda mais acolhedor pequeno-almoço no quarto!

27 março 2013

Nova Deli, a capital

Como já deve ter transparecido em alguns posts, a Índia pode cansar. De tal maneira que se pode chegar à caótica capital e fazer tudo menos turismo. Andar de metro para testar a eficiência deste meio de transporte, mesmo a abarrotar de indianos. Fazer compras para comprovar a teoria de que os estrangeiros pagam sempre mais do que deviam, mesmo quando acham que estão a fazer um bom negócio. Almoçar num dos restaurantes mais antigos da cidade, frequentado por indianos e lonely planetlistas, Karim's de seu nome. E jantar em casa de um colega de MBA, numa das cidades satélite da capital, Noida.
Sobretudo, superar as (baixas) expectativas. Depois de um encontro com uma australiana e uma russa na estação de comboios de Jaipur, no qual o ambiente de Nova Deli foi descrito como muito hostil para as mulheres, foi bom perceber que a descrição era exagerada. O ambiente que se vivia, no auge das manifestações a propósito do caso da jovem atacada por seis homens num autocarro, não seria dos melhores (aliás, os meus colegas de Mumbai não queriam deixar-me ir!). Mas Nova Deli revelou-se uma cidade cosmopolita, com muito para descobrir em passeios a pé pelas ruelas da cidade velha, a Deli de outros tempos...


O caótico trânsito

 Mais caótico que o trânsito, o panorama de fios...

...como se pode continuar a ver!

Banca de rua

 Ainda mais bonita quando vista de perto

Outra banca de rua

 Banca de rua de outro género...

...mais tipo mercado Estrela Vermelha em Maputo!

Edifício colorido da cidade velha I

 Edifício colorido da cidade velha II

Entrada para a Jama Masjid, a maior mesquita da Índia...

...que foi visitada só porque surgiu no caminho para o Karim's!

24 março 2013

De como a pedra da lua dá boa sorte

E já que estamos numa de massagens, porque não falar da pedraterapia, tão em voga na Índia? Não, não estou a falar das massagens com pedras que por cá também se fazem. Estou a falar do conhecimento das pedras e das suas propriedades terapêuticas. Eu também não sabia, mas parece que sim, que as pedras têm propriedades terapêuticas. E como é que eu descobri semelhante coisa, perguntam vocês? À conta de um anel do qual sou inseparável e que foi motivo de conversa ao longo da minha viagem pela Índia.
De facto, o anel veio da Índia, há muitos anos, prata com pedra da lua. Uma prenda do meu pai, que me disse que a pedra da lua dá boa sorte. O que ele não me disse é que também dá equilíbrio e tranquilidade, quando a luz do sol atravessa a pedra e entra em contacto com a minha pele. Daí a razão de não ser fechado em baixo, coisa que sempre me fez confusão, porque acumula sujidade e eu passo a vida a limpá-lo. Pormenores à parte, o facto é que nunca mais o tirei. E confirma-se. Sou uma mulher de (boa) sorte...

21 março 2013

De como a Índia pode surpreender pela positiva no que respeita às pessoas com deficiência

Mas se a Índia surpreende pela negativa no que toca às mulheres, também pode surpreender pela positiva no que respeita às pessoas com deficiência. No aeroporto de Mumbai, à conta de um atraso no vôo para Jaipur, decidimos fazer uma massagem numa das várias instalações que existem no aeroporto para o efeito. E qual não foi a nossa surpresa quando nos apareceram dois massagistas cegos! Surpreendente, não? Na Europa, apesar de já termos muita coisa a pensar nas pessoas com deficiência, estamos muitas vezes centrados naquilo que essas pessoas não podem fazer. E que tal começarmos a pensar no (muito) que as pessoas com deficiência podem fazer?

PS: Nem de propósito, entre Árvore e Primavera, hoje é o dia da Trissomia 21!

19 março 2013

De como a Índia tem um problema com a violência contra as mulheres

Alguém comentou comigo que a Índia até pode respeitar os animais, mas tem um problema com a violência contra as mulheres. O comentário não podia ser mais acertado. Provavelmente este problema sempre existiu, mas nos últimos tempos ganhou uma inédita visibilidade. A notícia do brutal ataque de seis homens a uma jovem num autocarro em Nova Deli, que resultou na morte da jovem ao fim de uns dias, percorreu o mundo inteiro e pôs a Índia a ferro e fogo.
Não é que não haja leis contra a violência sobre as mulheres. Há. O problema é que não são aplicadas. As acusações e condenações por violação contam-se pelos dedos das mãos. E a violência sexual, entre outras formas de violência, contra as mulheres é(são) tacitamente aceite(s). Como em tudo, também no que respeita à violência contra as mulheres, o processo de mudança de mentalidades é o mais difícil. Mas acredito que esse processo já está em marcha...

16 março 2013

De como a Índia foi o primeiro país do mundo a respeitar os animais

Não foi uma nem duas, foram várias. Primeiro em Fatehpur Sikri, depois em Agra. Com casacos, coletes, ou uma simples serapilheira. Cabras vestidas! Por causa do frio, imagino eu... Porque na Índia, à conta de religiões como o budismo, o hinduismo e o jainismo, há uma tradição de não violência com os animais. A violência com os animais é condenada com base na crença na reencarnação, segundo a qual um ser humano pode voltar ao mundo no corpo de qualquer animal. O que faz com que a Índia tenha sido o primeiro país do mundo a adoptar leis de protecção animal, no século II A.C.! Muito à frente, não? Qualquer semelhança com o divertimento que na nossa sociedade ainda se tira de certos espectáculos de sofrimento animal, é mera coincidência...





13 março 2013

Fatehpur Sikri

A cerca de 40 quilómetros de Agra está uma das antigas capitais do Império Mogul, um dos grandes impérios indianos, com origem no actual Afeganistão, que governou entre os séculos XVI e XVIII e ficou conhecido pela importância que deu às artes, nomeadamente à arquitectura. Património Mundial da UNESCO, Fatehpur Sikri (literalmente, Cidade da Vitória), foi construída na segunda metade do século XVI, mas foi abandonada poucos anos depois, devido a problemas de abastecimento de água. Dado este abandono, nunca foi reconstruída, permanecendo a estrutura original.
Através de um edifício de entrada com 54 metros de altura, entra-se num primeiro complexo de edifícios, onde se destaca uma das maiores mesquitas da Índia. Daqui passa-se para o complexo de palácios, uma verdadeira pérola arquitectónica, em tons de vermelho. Primeiro o palácio da mulher hindu, depois o palácio da mulher cristã, e  depois ainda o palácio da mulher muçulmana, entre outros. E é assim que descobrimos que o Imperador Akbar (avô do Imperador Shah Jahan, o do Taj Mahal) era um homem dado à união das religiões! Mulher em sentido esposa, bem entendido, palavra de que não gosto particularmente, até porque em espanhol tem um significado bem diferente...
Voltando à Índia, e esquecendo o passado de jogos com jovens escravas como peças humanas e execuções públicas com elefantes a esmagar os condenados, há que dizer que o complexo de palácios de Fatehpur Sikri é de uma tranquilidade como não encontrei em mais nenhum ponto turístico indiano. Não sei se pela ausência de turistas em massa, se por alguma aura especial. Ou ainda se pelo jardineiro de provecta idade que nos ofereceu sementes de crista-de-galo (nome soletrado num português bastante razoável) quando lhe dissemos que íamos de Portugal.


Edifício de entrada no primeiro complexo

As cabras também gostam de sol... 

Um dos edifícios do primeiro complexo 

Outro dos edifícios do primeiro complexo 

As cabras também fazem pela vida... 

Porta de saída para o segundo complexo

Casa da mulher hindu, a favorita do Imperador Akbar 

Salão de audiências privadas 

Coluna central do salão de audiências privadas 

Ainda o salão de audiências privadas 

 Pavilhão em patamares decrescentes

Jardim das mulheres, onde estava o jardineiro 

Que não era este senhor!

Zona dos estábulos

Vista sobre os arredores

10 março 2013

De como as taxas nas contas dos restaurantes parecem cogumelos

Em fim-de-semana de Troika em Portugal, vale a pena referir as contas dos restaurantes na Índia. Porquê? Porque têm mil e uma taxas! Quem vai a um restaurante na Índia, paga não apenas o IVA, de 12,5%, mas também uma taxa de serviço, uma taxa de acesso à educação e uma taxa de acesso à educação secundária e superior. Isto para referir apenas as que percebi! Quer dizer, as taxas e respectivas percentagens variam de região para região, com excepção do IVA e da taxa de serviço, que são fixas (embora também variem nas percentagens). Mas sejam que taxas forem, o facto é que parecem cogumelos, como se pode ver abaixo...



08 março 2013

O monumento mais visitado da Índia

O Taj Mahal é visitado por cerca de 3 milhões de pessoas todos os anos, sensivelmente o dobro da população da cidade onde está, Agra. O movimento é tal que há coisa de 10 anos teve que ser submetido a uma profunda operação de restauro, para contrariar os efeitos da poluição. Curiosamente, foi "tratado" com uma mistura de cereais, terra, leite e cal, de seu nome multani mitti, uma receita antiga usada pelas mulheres indianas para tornar a pele bonita...
Desde então, um raio de algumas centenas de metros em redor do complexo está fechado ao trânsito, sendo apenas permitidos veículos não poluentes. O que faz de Agra a única cidade indiana (se não do mundo inteiro?) com tuk-tuks ecológicos, movidos a baterias. Apenas estes e os rickshaws, mais umas charretes a cavalo, podem levar os turistas à porta. Já lá dentro, em toda a zona do edifício central, as regras são pés descalços ou plásticos a cobrir os sapatos.
Com ou sem regras, há que respirar fundo e não deixar que as hordas de turistas nos tirem o prazer de ver um dos edifícios mais belos do mundo. Porque o Taj Mahal é mesmo daqueles que não se pode passar. Seja a que hora do dia for. Mesmo que as melhores, pelo efeito da luz no mármore branco, sejam ao nascer e ao pôr-do-sol...


Turistas, turistas, turistas




Por mais que se espere pela foto perfeita, sem silhuetas...

06 março 2013

O monumento em mármore branco e pedras semi-preciosas

O Taj Mahal levou 22 anos a construir, ficando todo o complexo pronto em 1653. O edifício central, em mármore branco com pedras semi-preciosas incrustadas, levou "apenas" 8 anos, mas foi construído com a colaboração de especialistas do mundo inteiro. No total, trabalharam na construção do palácio cerca de 20.000 pessoas. É obra...
De costas para o rio Yamuna, o edifício central encabeça o complexo de jardins e edifícios secundários, em perfeita simetria. Curiosamente, os 4 minaretes que o rodeiam não são perpendiculares ao chão, não se sabe se por efeito do tempo ou se propositadamente para em caso de terramoto não caírem em cima do palácio.
Mas o verdadeiro segredo do Taj Mahal está nas fachadas em caligrafia árabe, com excertos do Corão. É que vistas a partir do chão, de onde estamos, as letras têm todas o mesmo tamanho, para todo o texto poder ser lido (muitos metros de altura, não esquecer). Mas isto não é mais do que o efeito de uma ilusão de óptica...


Edifício de entrada do complexo

Edifício Oeste, uma mesquita

Edifício Este, pura simetria

E daqui para baixo, pormenores do edifício central







04 março 2013

O monumento ao amor por excelência

O Taj Mahal dispensa apresentações. É considerado uma das sete maravilhas do mundo.  Uma lágrima no rosto da eternidade, segundo uns. A incorporação de tudo o que é puro, segundo outros. Capaz de fazer o sol e a lua chorar, segundo o seu criador, o Imperador Shah Jahan. É, sobretudo, o monumento ao amor por excelência.
Shah Jahan deu início à sua construção em 1631, depois de Mumtaz Mahal, a sua 3ª mulher, ter morrido ao dar à luz o 14º filho de ambos. Reza a história que Mumtaz era a sua favorita e que o Imperador terá ficado com o cabelo grisalho de um dia para o outro após a sua morte.
O palácio (taj em hindi), mais do que um túmulo, foi uma forma de eternizar o seu amor. Não tendo vivido tempo suficiente para construir o seu próprio túmulo, projectado à imagem do Taj Mahal, mas em mármore negro, do outro lado do rio, o Imperador Shah Jahan está enterrado ao lado de Mumtaz, por baixo do Taj Mahal.
Histórias de amor à parte, é realmente de fazer cair o queixo e ficar sem palavras...