29 maio 2006

Primeira viagem. De além Tejo…

Para quem não sabe, vivi em Maputo, Moçambique, durante o ano de 2005. Foi lá que comecei a escrever, sob a forma de e-mails para familiares e amigos em Portugal, sobre as viagens que fazia. E, pelos vistos, ganhei-lhe o gosto…

Assim, depois das Crónicas de Moçambique (a “linkar” brevemente), eis as Crónicas de Viagens de Aquém e Além Tejo. Em Portugal ou lá fora. A Norte ou a Sul do Equador. Desde que permitam o matar da sede de viajar. Aliás, desde que o não permitam. Que permitam antes o constante renovar dessa sede, como quando se bebe e mais sede se tem. Com boa disposição e máquina fotográfica à mão, venham de lá essas viagens!!!

29 de Abril, dez da manhã, mais coisa menos coisa, que isso de começar viagens às seis da manhã é coisa de África, rumo ao Alto Alentejo, acompanhada por umas doces criaturas (esta paga direitos de autor, eu sei, ora espreitem o
fuga para a vitória). Destino final, Marvão, vila medieval a espreitar-nos de cima de um penhasco. E como a palavra medieval tem o seu peso, a inevitável pergunta: mas como raio é que eles faziam para se movimentarem naqueles tempos? Se ainda agora custa imaginar como é que a criançada vai todos os dias para a escola em Castelo de Vide… Certo, já não há muita criançada. Marvão, como muito do interior português, não é mais do que um punhado de velhos, com uns quantos turistas à mistura. Resta-me saber se já há cabeças pensantes a pensar (passe o pleonasmo) em políticas de repovoamento do interior face a um futuro de urbanização sem limites… Mas isso não é discussão para aqui. Aqui estamos em terras do Alentejo, terras de boa gente, boa comida e, como não podia deixar de ser, boa bebida! Mais do que falar do castelo de Marvão, onde demos com um acampamento de escuteiros com borbulhas na cara, das ruínas de Ammaia, ainda em grande parte enterradas, de Castelo de Vide, onde percorremos as ruas estreitas da judiaria, ou do menir da Meada, o maior da Península Ibérica, o roteiro fez-se de migas de espargos selvagens com entrecosto, plumas e mimos de porco preto, borrego, açorda (da verdadêra), pezinhos de coentrada, arroz de lebre com piri-piri (é assim, África entranha-se…), uma sericaia de bradar aos céus em Alter do Chão (Páteo Real, recomenda-se!), etc, etc, etc. Com um tintinho da região (não fiz a rota dos vinhos, mas passei à beira da quinta onde se faz o famoso Tapada de Chaves) ou uma cerveja fresquinha, venham de lá esses quilitos a mais!!!

Fora dos circuitos turísticos, uma visita à Feira do Queijo de Niza, a decorrer em Tolosa (eu e a minha sorte, tenho queijo para o resto do ano!), e uma aventura todo-o-terreno numa fronteira Alto Alentejo/Beira Baixa deserta, com um road-book desactualizado e um Tejo que teimava em não aparecer. Valeu-nos uma bússola, recém-adquirida, que nos levou a Niza convencidos que íamos a caminho de Vila Velha de Ródão… Isto no meio de um descampado de papoilas, lírios e outros que tais, numa mistura de vermelhos, roxos e amarelos de tirar o fôlego. Já sem este colorido, e com muitos calhaus à mistura, passagem pelo Castelo de Belver e pelo Castelo de Almourol (um dos aventureiros tem uma fixação em “castros”, o que é que se lhe há-de fazer?). Ou achavam que não tínhamos dado com o Tejo? Nem que fosse só para comprovar que ele também dá um arzinho da sua graça fora de Lisboa…