26 setembro 2009

A outra meia dúzia

"Esta estranha terra", do escritor indonésio Pramoedya Ananta Toer, um forte candidato ao Prémio Nobel. Nunca tinha lido nada dele, aliás, acho que nunca tinha lido nada de um escritor indonésio. E este livro é a prova viva de como ler é viajar e conhecer outros mundos. É tão diferente que dei por mim a resistir aos primeiros capítulos. Até me embrenhar totalmente na Indonésia do século XIX, ainda colónia holandesa, com todas as suas clivagens étnicas e sociais. Muito bom. Fica a vontade de ler outros livros do mesmo autor.

"A Madona", da nossa Natália Correia. Nunca tinha lido nada dela e não sei se comecei pelo melhor livro. Não me prendeu por aí além. O imaginário está um pouco datado, é certo, mas não me parece que seja por isso. Pura e simplesmente, não me prendeu.

"Cosmofobia", da espanhola Lucía Etxebarría. Um livro que se lê de um fôlego, numa imersão no colorido contexto imigrante de Madrid. Pena que a pouco mais de meio, o ponteiro vire para a futilidade de um contexto mais artístico. Bem sei que o bairro madrileno de Lavapiés tem de tudo, mas reservo-me o direito de gostar mais do ambiente multiétnico...

"O tigre branco", do escritor de origem indiana Aravind Adiga. A ascensão social de um rapaz de uma zona rural da Índia, contada em forma de cartas ao primeiro-ministro chinês. Um soco no estômago. Não pelas descrições da miséria no país, já recorrentes. Mas pela total e absoluta perda de valores em nome da fuga à miséria...

"A casa dos budas ditosos", o famoso livro do brasileiro João Ubaldo Ribeiro. Tanto tempo à procura do esgotado livro, depois dos tão falados episódios de censura, para isto? Na minha modesta opinião, o livro cansa. Sem querer parecer feminista (e muito menos moralista), é um livro escrito por um homem que acha que sabe como pensa uma mulher. Não tenho nada contra, aliás, tudo a favor. Mas tenho na minha mesa de cabeceira um livro de outra brasileira ("Na cabeceira da cama", Regina Navarro Lins, acho que não está editado em Portugal) que também põe em causa os padrões sexuais, indo até mais longe, mas com muito mais nível.

"Leite derramado", Chico Buarque. Apresentações para quê? A minha imparcialidade em tudo o que diga respeito ao moreno dos olhos d’água é suspeita até mais não! Tudo o que ele faz, faz bem feito. E este livro é mais uma prova disso. Menos depressivo do que as primeiras incursões dele pela escrita (quem não se lembra do "Estorvo"?), é a história de um homem em fim de vida, contada pelo próprio a partir de uma cama de hospital, em simultâneo com o desenrolar da história do Brasil dos últimos dois séculos. Para ler ao som da voz do autor... :-)

3 comentários:

  1. POis se gostas de escritores africanos tens de experimentar o José Eduardo Agualusa. Já li o Vendedor de Passados, As Mulheres do Meu Pai e agora estou a ler o Barroco Tropical, que me parece já ser o mais forte destes três.

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  2. Ana, melhor que o Vendedor de Passados? É difícil, achei-o genial! Mas se tu o dizes, vou experimentar o Barroco Tropical. Beijos às cachopas...

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  3. Anónimo9/6/10 11:02

    Fiquei curioso com alguns livros que referiste.

    Li à pouco tempo o Caim. Apesar de ter pouca vontade de o ler, especialmente depois de ler a viagem do elefante.
    Admito que gostei. É um livro muito pessoal, como uma conversa entre Saramago e Deus, talvez a adivinhar o avançar da idade.

    Agora estou a terminar "Um ano no tráfico de mulheres" é do autor de "Diário de um skin" é jornalismo de investigação e está a ser muito interessante.
    O livro chama-nos a atenção para o mundo em que vivemos e que nunca deixaram de haver escravos.

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