Antes do Brasil, Espanha (II)
Chegada a Madrid no dia 30 de Dezembro, dia de fim de trégua com a ETA, materializado num atentado à bomba de uma dimensão sem justificação. Mas os espanhóis, e muito bem, não se deixam afectar pela ETA! Para mal dos meus pecados, que estava a contar com uma entrada pacífica na cidade, típica de um fim de tarde de um sábado pós-natalício. Pois… Acontece que as prendas em Espanha só se dão no dia de reis! Ou seja, escolhi o sábado que equivale ao último sábado antes do Natal em Portugal!!! Foi o caos! Chegar à zona do hotel foi um feito. Estacionar num dos parques públicos foi uma aventura: quando finalmente a luz verde acendeu, o segundo sinal com a altura (1,90m) entrou em contradição com o primeiro (2,00m) e o meu jipe de 1,96m ficou sem saber o que fazer. Lá sai tudo do carro, “não estou a acreditar que tenho que subir a rampa em marcha-atrás”, vem o guarda do parque, “vá lá, na fila de carros que se formou atrás ninguém buzina”, o guarda não faz ideia de qual dos sinais é que está certo, “no hay problema, pasa”. Devagarinho… Passou!!!
Mas se as ruas estavam cheias de carros, estavam ainda mais cheias de gente. De malas às costas aos encontrões até ao hotel, para nos recambiarem para outro hotel da mesma cadeia, mas na Porta do Sol. Que bom, exactamente onde não queríamos ficar porque queríamos dormir alguma coisita, por pouco que fosse, na noite de ano novo... Mais uns encontrões, uma absoluta perplexidade em relação à quantidade de gente nas ruas e, finalmente, a chegada ao hotel. Mas a perplexidade à séria ainda estava para vir… Depois do jantar, já próximo do hotel e da meia-noite, milhares de pessoas nas ruas a festejar com champanhe e uvas. Alô? Hoje é dia 30, certo? Ou será que caímos nalgum buraco do tempo em Cuenca e não demos por nada??? Por momentos, a dúvida… Hoje é dia 30, não é? Salvas pela recepcionista do hotel com a sua explicação sobre o ensaio das campanadas (que é como quem diz badaladas). Está provado, a fama de "amigos de fiesta" dos espanhóis tem proveito…
Na verdadeira noite de ano novo, uns enchidinhos com um pãozinho cedido pela mesa do lado, acompanhados dum tinto de verano, tudo muito sofrido já perto da meia-noite. Que foi passada com vista para o relógio da Porta do Sol, no meio da maior confusão, entre champanhe e uvas, com muitas cabeleiras à mistura (mais uma novidade espanhola, cabeleiras para todos os gostos na passagem de ano…). Mas, curiosamente, com pouca festa. Um fogo de artifício de não mais de cinco minutos, sem concerto, e com debandada geral pouco depois. Por causa do atentado da ETA? Ni idea.
Para além das aventuras, não há muito mais a dizer sobre Madrid. Roteiros turísticos não se fazem no último fim-de-semana do ano, com tudo fechado. O que se faz é passear, muito, por ruas e ruas, para sentir Madrid. Sim, porque Madrid é uma cidade que se sente! Eu, pessoalmente, gosto muito. É de um cosmopolitismo que a minha querida Lisboa ainda está longe de alcançar. E é uma cidade muito simpática. Nomeadamente à noite, com copas e tapas, porta sim, porta sim! Embora, verdade seja dita, com os anos a aumentar e os graus a diminuir, o que sabe bem, mas mesmo, mesmo bem, é um chocolate quente!!!
Por último, à despedida de Madrid, numa saída bem mais sossegada do que a entrada, passagem pelo Vale dos Caídos, monumento de inspiração franquista em homenagem aos mortos da Guerra Civil, cuja visão da estrada, ao longe, é mais do que suficiente. Já o Escorial, complexo com mosteiro, palácio e outras coisas mais, merece uma visita. Que fica para a próxima, quando o dia não for o primeiro do ano…
Eu não disse? Chocolate quente em vez de copas!